Passamos por uma turbulência do preço da @ no ano de 2023, onde tivemos uma baixa histórica e também tivemos um apagão da mão de obra nas fazendas. Tá difícil manter o pessoal que é bom nas fazendas? E como que um programa de meritocracia pode ajudar nisso?
Jacqueline Lubaski: “Houve um apagão da mão de obra sim e não foi apenas em 2023. Essa situação já acontece desde 2020 de maneira mais intensa. Em 2023 só tem piorado e é melhor se segurar e apertar os cintos, porque vai piorar ainda mais.
Por que você acredita que vai piorar a situação da mão de obra?
De 2020 para cá, o agronegócio e a pecuária em especial têm crescido muito e diante disso, aumentou a demanda de mão de obra. A pecuária, em especial tem trazido mais tecnologia para o campo e óbvio que precisaremos de mais de mão de obra qualificada. Eu brinco ainda que nós tínhamos uma falta de mão de obra qualificada até há pouco tempo, mas hoje, não se encontra nem qualificada.
Hoje temos que criar situações para que as pessoas sintam o desejo de ficar ou ir para o campo. A questão salarial é muito importante, mas outros fatores como o ambiente de trabalho também influenciam muito.
O que é meritocracia e como utilizar essa estratégia para retenção dos talentos?
Meritocracia nada mais é do que pagamento por mérito. Existem vários formatos, PPR (Prêmio de Participação nos Resultados), PRL (Programa de Participação nos Lucros e Resultados), pagamento ou bonificações calculadas sempre sob os resultados.
Enfim, é uma lambança de nome, mas, na verdade, a grande maioria não utiliza ou não usa isso de fato, como deveria. Na verdade, é utilizado em maior parte como uma compensação salarial.
É necessário ter metas e indicadores para realizar esse pagamento. Caso contrário, o pecuarista está compensando um salário que de fato já era para estar pagando.
O que as fazendas estão fazendo para atrair e reter esses talentos?
Vamos lá! Eu sempre brinco que precisamos manter a roda funcionando, né? São várias engrenagens dentro de uma fazenda, e uma delas é cultura e a identidade da propriedade.
Pessoas querem reter pessoas, mas muitas vezes as pessoas estão lá sem nem saber, e nem conhecer para quem ela trabalha. É necessário que as pessoas entendam qual é o objetivo e o que a empresa espera dela. Quando eu tenho uma identidade, uma cultura, as pessoas defendem aquilo, ninguém defende aquilo que não conhece, e isso é identidade.
Também é preciso entender se os valores da empresa estão alinhados com os valores do colaborador, senão essa parceria não funciona.
Qual a importância da comunicação clara entre líderes e liderados?
Bendita seja a comunicação! É extremamente importante ter uma comunicação eficiente em todos os níveis, desde o capataz até a liderança.
Por exemplo, um vaqueiro precisa saber exatamente quais funções irá exercer durante a semana. Dessa forma, ele consegue se preparar melhor, saber os horários exatos, qual tipo de serviço será realizado naquele dia para que ele possa usar o cavalo/mula adequado, qual é o dia do pagamento, quais são as regras dentro da fazenda, quais são os benefícios. Tudo isso faz parte de uma comunicação clara e eficiente.
Como a capacitação da equipe pode colaborar neste cenário?
O terceiro ponto é principalmente a questão de desenvolvimento das pessoas. Treinar essas pessoas, ter colaboradores que são treinados para suas devidas funções.
Como exemplos: um tratorista precisa conhecer o trator que vai operar, saber como está o horímetro, quando foi feita a última troca de óleo, qual tipo de óleo usado. Da mesma forma um vaqueiro também precisa ser treinado. Conhecer os protocolos sanitários que a fazenda utiliza, qual a rotina, qual o manejo, práticas de bem-estar.
Para toda função na fazenda é necessário ter treinamentos internos e os procedimentos bem mapeados.
Também é importante que o time busque treinamentos fora e hoje com a facilidade da internet e cursos disponíveis, é possível aprender e trazer práticas para dentro da fazenda.
E as lideranças?
Um quarto pilar… eu chamaria exatamente a liderança. Se a liderança não estiver preparada, é outro tiro no pé. Geralmente o proprietário coloca aquela pessoa que a gente acha que é de maior confiança e está mais tempo na propriedade, como o capataz/administrador/coordenador.
Porém, muitas vezes nem se pergunta para essa pessoa se ela tem esse desejo de fato. Muitas vezes não é interesse dele e a grande maioria não está preparada, e ainda corre o risco de perder essa pessoa por esse motivo.
Para assumir um cargo de liderança, é necessário ter outras habilidades, como gerenciar pessoas, saber delegar tarefas, conhecer a melhor habilidade de cada um da equipe e ter uma comunicação clara das atividades da fazenda.
Caso contrário, se criar uma situação negativa com essa “liderança não preparada’’, irá gerar insatisfação dos liderados e possíveis perdas de funcionários.
E sobre salário e bonificação financeira?
Faça uma pesquisa e descubra a média salarial da região para você estar dentro dessa média. É muito comum perder funcionários pois a fazenda vizinha paga, por exemplo, R$50,00 a mais.
Busque realizar os pagamentos no dia combinado, não frustrando nenhum colaborador e valorize evolução de carreira na sua equipe, aumentando o salário quando proposto.
Uma outra maneira é mostrar ao colaborador os benefícios que ele tem morado na fazenda e quanto isso custaria para ele. Mostra pro seu time quanto custa um aluguel de uma na cidade, quanto custa a energia e a água que ele tem inclusa.
E hoje, infelizmente, somos péssimos vendedores de imagem de nós mesmos. Às vezes a gente tem todos esses benefícios, mas a gente não consegue mostrar. Por isso, quando investir em qualificação, de alguma forma, eu tenho que reconhecer isso que está me trazendo bons resultados.
Quais são as funções com maior gargalo hoje nas fazendas?
Da área de pecuária, encontrar vaqueiros está cada vez mais difícil. É necessário ter habilidades e conhecimentos que muitas vezes são adquiridos em uma infância rural, da lida ajudando o pai ou familiares.
Outra vaga difícil são os trabalhadores rurais, aquele que realiza serviços gerais, como fazer cerca, manutenção geral da fazenda.
Como a tecnologia contribui para um programa de bonificação/meritocracia?
A tecnologia contribui para o gerenciamento das informações e dados. Conhecendo os dados, o pecuarista consegue estabelecer metas de resultados para a equipe. Esse é o primeiro ponto base para um programa de bonificação.
O proprietário precisa conhecer seus custos e ter um resultado positivo, para que consiga bonificar os funcionários. Dessa forma, toda a equipe busca atingir a meta, pois só receberão a bonificação se for feito um trabalho em conjunto.
É importante também que os colaboradores conheçam o “porque” de suas atividades. Toda atividade dentro da fazenda é importante e tem um motivo. Por exemplo, o lavador de bebedouro precisa saber que o boi que consome água limpa tem um ganho de peso melhor. Veja como a função dele é importante dentro do resultado produtivo. Assim como o tratador, o cerqueiro, o responsável pela fabricação da dieta, o responsável pela saúde dos animais, todos são importantes.
É necessário cuidar das pessoas que cuidam do seu negócio, caso contrário é um baita prejuízo. É água que vai pro ralo. Então, se você não cuidar das pessoas, você automaticamente não terá bons resultados e está prestes aí a ter que mudar de segmento, porque não tem jeito.
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