Confinamento é um tema que sempre causa muita controvérsia entre os produtores rurais, empresas de nutrição, analistas de mercado e curiosos financeiros (me refiro aos especuladores de mercado). Mas por um outro lado é uma atividade crescente no setor do agronegócio, com uma grande importância na produção de carne bovina que sustenta a demanda interna de alimento e a exportação de comodities brasileiras em patamares elevados.
Desta vez não estou aqui para falar de nutrição de ruminantes em sistema de confinamento apenas, vamos falar de um assunto estratégico importante para o sucesso da atividade do confinamento. Além de boas dietas, ingredientes de qualidade, boa genética animal, um bom manejo de fornecimento de trato a atividade pecuária cada vez mais requer conhecimento sobre a parte e a prática do mercado.
No Report de Confinamento da Ponta Agro 2023 tivemos a oportunidade de ter informações preciosas sobre o cenário dos confinamentos no Brasil, uma apuração de dados de mais de 4 milhões de animais geridas na engorda intensiva no Brasil, produção de mais 1 milhão de toneladas de carcaça quente e o mais importante, alimento produzido com a capacidade de alimentar quase 9 milhões de pessoas por ano. Dentro dessas informações me chamou muita atenção a questão dos ciclos de mercado e principalmente a questão dos giros do confinamento.
Primeiro ponto que gostaria de deixar aqui é: “O Brasil confina boi o ano todo”, parece besteira mais muita gente ainda fica apegado somente na questão de safra e entressafra de boi. A partir daí vou começar a demonstrar a minha linha de raciocínio e estratégias que utilizamos no decorrer dos aprendizados ao longo dos anos.
As experiências que vivi em Goiás, Minas Gerais e no Tocantins desde 2014 me mostram esse movimento muito claramente, assim como podemos enxergar no gráfico acima, o Fluxo de entrada dos animais do primeiro para o segundo giro vem diminuindo significativamente mostrando que estamos produzindo o ano todo em confinamento, subindo a qualidade da nossa carne e aumentando o nosso potencial de produção.
Esse movimento bem definido de entrada de boi no início do período de seca que podemos ver no gráfico, por exemplo, o ano de 2019 sempre beneficiou principalmente as estratégias de compra dos frigoríficos, porém começou acender uma alerta muita grande para os produtores. Se concentramos a produção, concentramos a oferta, assim desvalorizamos o preço da @ por um período e valorizamos em outro. Outro fator que interfere nesse gráfico é a questão da demanda por animais jovens e carne com melhor qualidade, não podemos nos esquecer disso, a entrada dos compradores chineses por exemplo aceleraram o processo de seleção dos produtores de carne do Brasil. Precisamos ser melhor todos os dias o mercado exige e a concorrência cresce.
Focando na questão dos giros de engorda o relatório da Ponta traz mais informações importantes para analisarmos:
Nos gráficos acima nos mostram como a dinâmica de compra e venda tanto do Boi Magro, quanto do Boi Gordo. Esse assunto pode ser um decisor de águas para tomada de decisão da atividade do confinamento, porém eu acredito em algumas outras estratégias e visões que o pecuarista precisa começar a ficar atento e não só na dança do ágio. Um grande fator que sempre levo para o produtor é que nossa capacidade de estoque de ingredientes deve ser capaz de seguir a safra da agricultura, compro ingredientes barato na safra e posso usar durante todo o ano. Outro ponto importante que nos ajuda contra o ágio é nossa capacidade de controle e geração de informação, não podemos ter dúvida do quanto custa o que produzimos e quanto produzimos.
Vou deixar aqui mais uma vez a minha opinião: “O ágio sempre vai existir, não! Quem define o ágio é o mercado, e contra o mercado temos apenas um remédio, chama-se produção.” No Report de Confinamento, temos uma frase do CEO da Ponta Agro, Paulo Marcelo que diz: “O pecuarista pode até escolher entre ser bom negociador ou ser bom empresário, mas ele definitivamente, não pode nunca deixar de ser um bom produtor.”
Um bom produtor consegue entender as estratégias do primeiro giro e aproveitar as oportunidades do segundo, vou finalizar minhas visões sobre o assunto com um relato de causo:
– “Sempre tivemos no Tocantins um preço de entressafra de boi, o tal do “boi do confinamento”. Mandar o boi para o frigorífico em outubro era o sonho de todo pecuarista, com isso os produtores tinham em mente iniciar o confinamento sempre em meados do dia 15 de julho para ter os 90 dias de confinamento e abater o seu boi no pico da @ do mês de outubro. O que eu via nesse momento, pecuarista que já tinha o boi magro na fazenda aumentado o custo de @ produzida no pasto para esperar o momento “certo” de fechar o boi, o ágio do boi magro subindo no mercado devido a procura por essa categoria animal e uma enorme perca de tempo de não fechar o boi logo no início do período de seca entre Abril e Maio, podendo fechar um animal mais pesado que seja de compra ou da própria recria, aproveitando o embalo da alta disponibilidade de forragem que esses animais vinham ingerindo junto com a suplementação, impactar menos no valor total da produção do seu animal, precisando produzir menos @ no confinamento para atingir o peso ideal de abate (geralmente por volta de 60 dias de engorda para produzir 5@ contando com rendimento).
Neste caso, poderia vender esses animais por um preço de @ de boi gordo mais barato para manter a mesma margem e fazer um segundo giro de animais em um período ainda de boas condições para índices zootécnicos, que seria de Julho a Outubro e, se possível mais um giro até Janeiro. Se voltarmos no gráfico de reposição do Boi magro em relação ao Boi gordo as melhores possibilidades de compra estão para o segundo giro nos últimos 2 anos.”
Visões não são mandamentos e por isso valorizo o conhecimento e a troca de experiência o Report de Confinamento da Ponta Agro 2023 me trouxe essa reflexão e me deixa cada vez mais atento as estratégias de mercado e não só a questão dos valores de mercado, não é a @ do boi gordo de trezentos reais que vai deixar o meu negócio lucrativo e sim a minha eficiência de produção e minhas estratégias.
Sobre o Autor:
Marcus Vinícius Bueno Silva é Zootecnista (UFG) e Especialista Produção e Nutrição de Ruminantes (ESALQ). Já atuou como gestor de confinamento, gerente e diretor na área comercial de nutrição de ruminantes, consultor de gestão e planejamentos em nutrição.
Atualmente Gerente de Contas da Zinpro Animal Nutrition e totaliza mais de 1 milhão de animais assistidos em confinamentos entre Brasil e Paraguai.