Dez anos de avanços da eficiência alimentar da pecuária brasileira

Eficiência Alimentar
Eficiência Alimentar

Faz pouco mais de uma década que o Brasil vem se especializando nos testes de eficiência alimentar, e os resultados deste intenso esforço já começam a ganhar destaque, alçando o país como referência no tema. Importante instrumento para selecionar animais de alto desempenho e baixo consumo de alimentos, as provas nacionais aumentaram a base de dados para eficiência alimentar em 1.200% desde 2011. Este importante avanço acontece, justamente, em um momento de forte pressão para redução dos custos de produção, em especial o da nutrição, e a necessidade de redução nas emissões de gases na atmosfera, e a eficiência na utilização dos alimentos se coloca como um caminho viável para atender a estas duas questões.  

Eficiência alimentar, em linhas gerais, é uma característica genética transferida dos pais para a progênie e tem sido observado herdabilidade moderada a alta. As provas surgem, então, como um importante instrumento de verificação e têm como objetivo selecionar, em um rebanho de contemporâneos, animais de alto desempenho que sejam mais eficientes na utilização de alimentos e, portanto, mais baratos de manter e de produzir.  

Pesquisas científicas têm mostrado que selecionar animais mais eficientes representa economia de até 15% de alimento por quilo de ganho em apenas duas gerações e, ainda, que animais com avaliação genética favorável para eficiência de -1,0 kg/dia em confinamento produzem progênie com eficiência alimentar 41% mais alta a pasto, crescendo 19% mais rápido, sem aumento no consumo. 

No Brasil, 96% dessas provas de eficiência alimentar são realizadas com a tecnologia patenteada pela Intergado. De 2011 até agora, foram testados mais de 45 mil animais de diversas raças. A atuação se dá em parceria com centros de pesquisa público/privados e programas de melhoramento genético, casos da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), do Programa Embrapa de Melhoramento Genético de Bovinos de Corte (Geneplus), do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos desenvolvido pela ABCZ (PMGZ), da Cia de Melhoramento e do Programa de melhoramento Nelore Qualitas, assim como de grandes centrais, como ABS, Alta Genetics, Lagoa da Serra, Central Bela Vista e Seleon. Portanto, trata-se de um amplo e complexo trabalho coletivo. No trabalho com esses parceiros são fornecidos, em tempo real, dados associados ao comportamento de ingestão de alimentos, além do ganho de peso diário de cada animal, necessários para o cálculo da eficiência alimentar. A coleta se dá de forma voluntária e automática, sem a necessidade de contenção e manejo dos animais. E todas as informações podem ser acessadas remotamente.   

A capacidade de baixo consumo gera, basicamente, dois impactos. O primeiro deles é a redução do custo de manutenção e de produção do animal, tendo em vista que a nutrição é o maior custo do sistema produtivo – pesquisa da GA+Intergado mostra que o custo alimentar tem representado parcela cada vez maior do custo total de produção (82%, em 2019; 83%, em 2020; e 87%, em 2021). Colocar no sistema animais que consomem menos, mantendo a produtividade, reduz custo e aumenta a rentabilidade do produtor. O segundo é a redução da emissão de metano, já que, ingerindo menos alimentos, o animal emite menos gases de efeito estufa – há pesquisas científicas que pontuam uma redução de 28%**.  

Nesse sentido, a seleção para essa característica genética torna-se especialmente importante para se chegar a uma pecuária mais sustentável, especialmente se pensarmos na responsabilidade assumida de reduzir em 30% a emissão de metano na atmosfera, compromisso firmado junto a outros cerca de 100 países durante a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP26). Com animais eficientes no sistema produtivo, a meta de redução de emissão pode ser facilmente atingida.   

A perspectiva futura é que o custo de nutrição continue em patamares elevados exigindo dos produtores maior capacidade de gestão e, principalmente, a adoção de técnicas e de tecnologias que contribuam para a sustentabilidade econômica das fazendas. Nesse cenário, a característica de Eficiência Alimentar deixou de ser um diferencial e se tornou um pré-requisito para a seleção genética do rebanho. A substituição do rebanho comum por animais eficientes no aproveitamento de alimentos é um dos caminhos mais efetivos para o controle dos custos, aumento da produtividade das áreas e para redução do impacto ambiental.  

Antes de 2011, as avaliações eram feitas em baias individuais, por processos manuais e muito trabalhosos, ou por meio de equipamentos importados, que se tornavam inacessíveis pelo custo. Por isso, até então, poucos centros de pesquisa e propriedades rurais realizavam provas para avaliação de eficiência alimentar. Com uma tecnologia nacional robusta, adaptada às condições das fazendas brasileiras, o que se viu foi a difusão do conceito e do uso da eficiência alimentar na seleção genética com consequente popularização do acesso às provas de avaliação para esta característica. Muitos criadores estão se dedicando a avaliar toda a safra de bezerros (machos e fêmeas) e, portanto, adotam a tecnologia necessária para realizar suas próprias provas.  

Inclusive, em fevereiro deste ano, a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) incorporou o Consumo Alimentar Residual (CAR) e divulgou quatro novos índices bioeconômicos específicos para cada sistema de produção. A inclusão já era aguardada por criadores há muito tempo e foi bem recebida pelo mercado. A partir de dados do último sumário da entidade (edição julho de 2022), observou-se que, dos animais que fazem parte do TOP 0,1% para Mérito Genético Total Econômico (MGTe), cerca de 64% têm DEP negativa para CAR. Apesar desta proporcionalidade ser algo esperado para a característica CAR, demostra que é possível encontrar uma grande oferta de animais de alto desempenho que são eficientes e que é possível escolher dentre estes os animais superiores que podem ser usados como melhoradores para a característica.  

Com o aumento da pressão de seleção para eficiência alimentar, vemos que os criadores e melhoristas que estão medindo e submetendo todos seus animais (machos e fêmeas) às provas de eficiência alimentar se destacam nos sumários e nas centrais de sêmen. Não há correlação genética do CAR com as demais características, logo, para selecionar animais que se destacam em precocidade, peso ao sobreano, habilidade materna, carcaça de qualidade e outras características, e ainda assim ser eficientes na utilização de alimento, é preciso submeter os mesmos à uma prova de eficiência alimentar. Dessa forma, oferecerão ao mercado animais de alto desempenho e baixo consumo que têm uma régua de DEP’s equilibrada e podem ser utilizados como melhoradores do rebanho nacional para diferentes objetivos produtivos.  

Hoje, felizmente, mercado, pecuaristas e selecionadores entendem a importância do parâmetro para a evolução da pecuária no Brasil. Esse entendimento aliado à alta tecnologia e à mão de obra qualificada permitirão que o país siga testando e evoluindo para oferecer o melhor rebanho ao país e ao mundo.  

Marcelo Ribas – Médico veterinário, doutor em Zootecnia, especialista em inovação e pecuária de precisão e vice-presidente da GA + Intergado 

Os artigos podem ser encontrados aqui: bit.ly/3TNzBov e bit.ly/3zcWI42

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