O processo de criação comercial do gado de corte é dividido em várias fases extremamente importantes, mas uma delas exerce maior influência sobre a rentabilidade final de cada animal em relação às demais: a recria de bezerros. Em muitos casos, essa etapa é considerada a “mais simples e esquecida” pelos produtores, que focam mais em outras atividades como a terminação.
A produção de carne é uma cadeia industrial cuja matéria-prima principal de uma atividade é o produto final de outra, lembre-se: sem cria não há bezerros para a recria. Consequentemente, sem os garrotes da recria não há boi para engorda e terminação.
Poucos são os pecuaristas que atuam em todas as fases da cadeia (ciclo completo) e muitas vezes, não têm o volume ideal de garrotes para garantir um fluxo constante de abate que mantenha o caixa positivo. Independente do modelo de negócio, é fundamental ter o controle preciso dos custos e do lucro de cada etapa para conquistar e manter a saúde financeira da fazenda.
O ciclo da recria tem duração média de dois anos e é fundamental controlar os diferentes fatores que determinam o bom resultado dessa atividade, que é a mais longa da pecuária de corte. Fazer a gestão adequada da originação, do manejo da pastagem incluindo a adubação, da suplementação nutricional e do desempenho do animal exige cuidado na coleta dos dados e uma análise precisa dessas informações para evitar que pequenas perdas ao longo do processo se transformem em prejuízo no final do ciclo.
Na recria os animais desmamados são manejados para desenvolver musculatura e ossatura suficientes para reprodução ou engorda. No caso das fêmeas, que serão incorporadas ao rebanho como matrizes, o desenvolvimento tem como objetivo dar condições para que ela entre no período reprodutivo o mais cedo possível. Já no caso dos machos, o objetivo é obter estrutura corporal em que o crescimento físico se reduza e ocorra a deposição de carne e gordura na carcaça, dando um bom acabamento na fase de terminação.
Valorização da recria de bezerros
Apesar da importância e da interferência direta sobre a lucratividade do plantel, a recria costuma ser pouco valorizada e relegada a um segundo plano em muitas fazendas brasileiras. A atitude não é a adequada, nem pelo impacto nos lucros e nem pelo tempo que ela ocupa no processo, que chega a 40% do ciclo de produção. A recria atinge, em média, 27% do rebanho total (considerando produções com abate aos 24 meses).
Justamente pela participação expressiva nesta etapa, é fundamental dedicar um bom planejamento pecuário a esta fase produtiva. A preocupação do produtor deve ser no sentido de que quanto mais tempo eles permanecem na propriedade, alongam o ciclo de produção e contribuem para a redução da eficiência e da rentabilidade da atividade.
Desafios da fase de recria de bezerros
No Brasil, a maioria das fazendas faz a recria à pasto. Nestes casos, o ganho de peso é diretamente influenciado pela produção e manejo da forragem. Essa produção, no entanto, é sazonal e o pecuarista terá que lidar com períodos de alto ganho de peso e baixo ganho de peso. Por exemplo:
- No período das águas, há mais disponibilidade de forragem porque o ambiente apresenta maiores temperaturas, umidade, luminosidade. Isso significa que o ganho de peso será maior;
- No período da seca, há menor disponibilidade de forragem, menor ganho e até perda de peso.
Situações como esta exigem a preparação e o planejamento constantes por parte dos produtores. É fundamental que eles adotem soluções modernas de gestão agropecuária para que obtenham todos as informações de custos e dados para saber onde e como investir.
Utilizar a produção forrageira ao seu favor, realizar o manejo correto da pastagem, manter o rebanho saudável e livre de enfermidades, fornecer suplementação e mineral aos animais são algumas boas práticas da fase de recria.
E para organizar todas essas atividades existem sistemas de gerenciamento de criação a pasto (softwares) que auxiliam o pecuarista com mapa do gado, gestão da nutrição, gestão do desempenho, rastreabilidade, controle da produção, entrada e saída de notas documentadas, entre outras tarefas que complementam a atividade, durante o ano todo.
Como o período das chuvas começa entre os meses de setembro e outubro e se estende até março e abril, a alta produção de forragem proporciona o ganho ampliado de peso. Neste sentido, manter a curva de crescimento do animal constante é o grande desafio da fase de recria. O produtor tem que se preocupar e impedir a ocorrência do “efeito boi-sanfona”, que ganha peso na estação de águas e perde na seca. Animais com essa característica costumam ficar entre 4,5 e 5 anos na propriedade, consumindo insumos, mão-de-obra, levando muito mais tempo que o ideal para ter retorno financeiro.
A solução para este tipo de situação é adotar a tecnologia para contornar fatores externos como a sazonalidade da produção de forragem. É possível fazer isso usando estratégias de suplementação que ajudarão a manter a curva de crescimento constante — o chamado “boi 777”.
Considere o seguinte exemplo:
- Um boi chega à desmama oito meses depois do nascimento, em plena estação das águas, com 210 quilos;
- Durante a fase de recria, que dura 12 meses, ele passa por dois períodos: uma seca e outra estação de chuvas;
- Para não perder peso na época do ano em que chove pouco, recebe suplementação proteica de 0,3% do peso vivo e atinge 282 quilos — aqui ele já pesa cerca de 9,5 arrobas;
- Com o passar do tempo e a volta da estação das águas, este boi volta a alimentar-se de pasto e chega à marca de 14 arrobas;
- Este animal será encaminhado à terminação, que durará os próximos quatro meses, pesando 21 arrobas e engordando 1,3 quilos por dia.
Observe que neste caso mesmo que o confinamento aconteça durante um segundo período de seca, o boi termina em menos tempo que um animal que não tenha passado por essa estratégia (em cerca de 2 anos) e apresenta resultados mais expressivos.
A estratégia para melhorar a rentabilidade, é reduzir a idade de abate, o que acontece quando se consegue diminuir a duração da fase de recria. Esta etapa pode variar entre 12 e 36 meses e ela é a única fase com tempo variável ao longo do ciclo produtivo. Daí a necessidade de dar a devida atenção à recria de bezerros.
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